Linguagem antes da escolinha - Laura Cuida

Em minha aula de brincadeiras para estímulo da linguagem, ouço sempre: “antigamente não havia isso de estimular linguagem e as crianças falavam tudo!”. Esta afirmação sempre abre campo para uma conversa cheia de reflexões acerca da infância de hoje e da “de antigamente”.

Nasci na década de 70 e cresci na rua. Desde bem pequena, andando de velotrol, brincando no monte de areia, às demais fases da infância. Quase 100% das vezes, em bando. Éramos uma turma enorme, de crianças de 1 a 10 anos e estávamos sempre juntos, naquele universo sem fronteiras, chamado RUA. Foi lá que aprendi a lidar com gente menor e maior que eu. Aprendi português, física, biologia, matemática, estratégia e astronomia na prática. O aprendizado por tentativa-erro acontecia em um vasto campo de possibilidades, na observação de outras crianças e na interação com elas.

Hoje, as crianças estão muito privadas desta segunda escola. Isto, somado à uma diminuição na quantidade de filhos, resultou em crianças mais sós, menos curiosas (devido à redução do seu espaço para explorar) e mais dependentes de um adulto para mostrá-las o que se aprendia sozinho na rua. Por este motivo, quando se diz “antigamente, crianças não precisavam de estímulo”, entenda que aquele estilo de vida era o próprio estímulo em si.

Onde a criança de hoje aprenderá a explorar livremente a vida?

Transformar o lar neste lugar de descobertas é necessário no século XXI. Entregar menos à criança e pedir que ela lhe entregue mais. Ser um veículo para atividades onde ela construa raciocínio, indague, associe, ganhe, aprenda a perder, refaça estratégias, identifique erros sozinha, encontre sua autonomia. É possível desenvolver tudo isto realizando atividades dentro de casa? Certamente! O universo da imaginação é muito rico e um apartamento pode se transformar em um parque, um supermercado, um zoológico, Júpiter ou um filme de bangue-bangue. E é através da criatividade, que começamos nossa jornada...

Duração da aula: 57 minutos.