Gnosticismo, suas origens e mimetização do cristianismo

Na história de formação do Ocidente, há um movimento que, desde a Antiguidade e paralelamente à influência ascendente dos valores judaico-cristãos, exerceu também certa influência sobre o pensamento ocidental, estando por trás de certas inflexões culturais que se insurgiram – e ainda hoje se insurgem – contra o cristianismo e tudo o mais que esteja a ele associado. Essa corrente se adaptou, se reinventou e se diversificou nos séculos seguintes, de tal maneira que conseguiu deixar impressões profundas que perduram no imaginário e na mentalidade ocidentais. Refiro-me ao gnosticismo.

Muitos dos equívocos e cacoetes mentais que as pessoas têm hoje nas áreas de cultura, ciência, política e até teologia têm suas raízes nesse movimento filosófico-religioso e a maioria delas nem sabe disso. Daí a importância de se conhecer esse assunto, o qual se constitui uma forma também de conhecer mais profundamente a formação do pensamento ocidental.

Para muitos cristãos, o pensamento gnóstico se trata apenas de uma ameaça do passado, quando, na verdade, ele sobrevive ainda hoje em várias ideologias seculares, como substrato delas, algo quase imperceptível para a maioria. Sua sobrevivência até os nossos dias, bem como a sua sutileza, se deve justamente ao fato, já salientado, de o gnosticismo ter se submetido a inúmeras metamorfoses e simbioses culturais durante os séculos, reinventando-se e ressurgindo a cada nova fase da história da humanidade, e não poucas vezes com novos nomes. Portanto, se queremos entender esse movimento, é preciso detectarmos as acomodações e mutações pelas quais passou. Entendê-las nos levará a discernir até mesmo as manifestações mais sutis da mentalidade gnóstica em nossos dias. Este é o propósito desta série em oito volumes, intitulada “Da gnose primitiva ao pensamento pós-moderno”, que tem como seu primeiro volume este livro “Gnosticismo, suas origens e mimetização do cristianismo”.